Na minha prática clínica, recebo pessoas que reclamam de se sentirem controladas em função do cuidado recebido de um cuidador, ou de então se sentirem em um alto nível de estresse ao cuidar de alguém. Cuidado ou controle? Quais são os limites e como identificá-los?
A forma que nos sentimos pode ajudar a discernir quando estamos querendo cuidar de quando estamos na necessidade de controlar. Isso porque, o que nos motiva a controlar alguém ou alguma situação é diferente do que nos motiva a cuidar.
Por trás do cuidado há o desejo de cuidar e de querer bem. Claro que em algumas circunstâncias, há a necessidade de cuidar de alguém, o que pode ir a favor ou contra nossa vontade, e isso de fato facilita ou dificulta nossa disposição e habilidade de cuidar. Mas quando se trata de uma legítima vontade de cuidar de alguém, na justa medida, o cuidado gera um fluxo positivo entre quem o recebe e quem cuida.
A sensação por trás do cuidado é agradável, pois ele flui e nutre tanto quem é cuidado, como quem cuida. A justa medida vem exatamente de prover cuidado a quem precisa e o solicita, seja por questões objetivas de idade ou de saúde física, seja por solicitação emocional de quem precisa. Ao longo da vida, carecemos de cuidado alheio, embora tragamos conosco alguma resistência ou não a esse cuidado. E vice-versa.
Que sentimento está por trás da necessidade de controle? Medo. A pessoa que se sente no controle, está querendo, na verdade, controlar um medo interno. E acaba adquirindo a falsa sensação de controle do medo, até que o outro, ou alguma situação, saia do controle. Sentindo-se no controle, ela aplaca seu medo.
Uma nuance do medo é a insegurança. Estar inseguro é não confiar na própria condição de lidar com alguma situação adversa trazido por este outro, “que deve ser controlado”. Acreditar que você pode fazer algo a respeito quando o outro não atende suas necessidades emocionais, mesmo na relação em que você é o cuidador, aumenta a autoconfiança, diminuindo o medo.
Em outras palavras, lidar com os próprios medos e inseguranças, acreditando que você pode fazer algo a respeito por você mesmo, caso o comportamento do outro venha a lhe afetar, aumenta suas chances de autodomínio emocional e diminui a sua necessidade de controle.
No final das contas, os limites entre o cuidado e o controle pode parecer uma linha tênue, principalmente quando o comportamento do outro nos pede alguma contenção, como forma de cuidado. Mas cuidado e controle, no final das contas, são diferentes, principalmente nos que diz respeito a seus efeitos. Cuidado educa e gera confiança, controle gera raiva e resistência.
O que faz diferença ao cuidarmos é estar centrados em nós mesmos para lidar com as adversidades da vida, pois há situações que fogem do nosso alcance, da nossa possibilidade de resolução ou, podemos dizer, do nosso “controle”. Isso é lidar com as incertezas da vida, que acomete a todos nós.
Fica difícil e contraproducente ter que controlar o outro ou estar submetido ao controle alheio, pois isso causa entraves emocionais nas relações, mais medo e adversidades. Afinal, a fluidez é um dos pilares do bem-estar.
Sobre Fernanda Lunardi – CRP 06/159430
É formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (em ambas graduações), onde focou sua formação e atendimentos na abordagem da Psicologia Analítica, de Jung. Estudou Biopsicologia no Instituto Visão Futuro, onde atuou como facilitadora, Comunicação Não Violenta, no Instituto Palas Athena, e Logoterapia, com Lorena Bandeira. Trabalhou como voluntária no CVV – Centro de Valorização à Vida, e hoje faz especialização em Biossíntese no IABSP.
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