Cada encontro é um rito, um encontro com a dor, a sombra, com as partes perdidas da alma.
Ser terapeuta é responder a um chamado que não nasce da mente, mas da alma. É um voto silencioso, feito diante do invisível, de caminhar junto de mãos dadas com o outro, beirando o abismo, sustentando o fio da vida, quando ele parece se desfazer. É sacerdócio e travessia, arte e entrega.
No espaço terapêutico, o tempo deixa de ser cronológico, ele se curva, torna-se um círculo. Nesse espaço, o corpo é um altar, a respiração é uma espécie de reza e o silêncio revela segredos que nenhuma palavra pode conter. Cada encontro é um rito, um encontro com a dor, a sombra, com as partes perdidas da alma.
Ser terapeuta é habitar esse lugar sagrado entre mundos: o visível e o invisível, o humano e o divino. É testemunhar o morrer e o renascer que se repetem, como estações internas. É segurar o espelho diante do outro, não para que ele se veja como sempre foi, mas para que descubra quem está destinado a ser.
E há um enorme mistério em tudo isso. Mistério em uma lágrima que escorre e limpa gerações, mistério em um corpo que treme e se liberta, mistério em um olhar que, de repente, recupera o brilho perdido. O terapeuta sabe: ali, algo maior se move, algo que nenhuma técnica explica, mas que só a firme presença pode sustentar.
A beleza de ser terapeuta não está em curar, porque curar pertence ao Grande Mistério, mas em guardar a chama enquanto o outro atravessa sua noite escura. Está em confiar que até na sombra germina vida, que até no caos mora um princípio de ordem, que até na sensação de que algo termina, já se anuncia um novo início.
Por isso, cada encontro é uma espécie de celebração, é um círculo aberto, um ritual silencioso onde a dor se transforma em sabedoria e o medo, em caminho. É a recordação de que somos todos peregrinos e que, na arte de acompanhar o outro, também renascemos e no mesmo instante.
Ser terapeuta é ser uma espécie de ponte, é ser guardião, iniciado vezes sem conta na mais bela das artes: a de sustentar a vida em todas as suas faces. É lembrar ao mundo que a alma, mesmo ferida, é sempre fértil. E no coração desse mistério, mora a beleza, a certeza de que, apesar de tudo, a vida insiste em florescer.





