Não vivemos mais no século XIX nem XX, onde nos sentíamos separados do Universo. Hoje, caminhamos na direção de uma nova conscientização e a certeza de que vivemos em um Universo holográfico, que somos um sistema biológico participante e que estamos todos conectados e imersos em um mar imenso de energias. Sendo assim, podemos concluir que todas as pessoas, animais, plantas, planetas, estrelas, elementos e tudo o que existe neste Universo estão interligados, interpenetrados e influenciados entre si.
Já sabemos que cada planeta possui uma energia específica que nos atinge, influencia e movimenta nossas vidas.
Hoje vamos falar um pouco de Marte, que na mitologia é considerado o deus da guerra, do combate, conquista e da luta. Quando passamos por algumas dificuldades e somos obrigados a nos superar e ultrapassar obstáculos ou quando o Universo começa a nos negar aquilo que tanto lutamos para conseguir ou quando nos tornamos impotentes diante da impossibilidade de realização de nossas metas e desejos, inevitavelmente ficamos furiosos, agressivos e na maioria das vezes não conseguimos lidar de uma forma positiva com esses sentimentos.
Se usarmos a razão, vamos entender que guerra, luta e combates possuem vários significados.
Na mitologia grega, esse deus era conhecido como Ares, o Grego. Na verdade, ele era odiado pelos gregos, pois era somente o deus da guerra e nada mais. Carregava um ódio sangrento dentro de si. Era cruel e muito pouco inteligente. Agia sempre por impulso, sem reflexão alguma antes de qualquer atitude. Esse deus possuía dois escudeiros: Deimos (que significa medo) e Phobos (que significa susto). Esses, aliás, são os nomes das duas luas do planeta Marte.
Possuía também dois companheiros inseparáveis: Eris (que significa luta) e Enyo (que significa destruidor de cidades). Ainda era seguido por um grupo denominado Kares (que significa aqueles que gostam de beber o sangue escuro dos que estão morrendo). Esse deus meio sem cérebro, foi concebido num momento de ira e vingança de sua mãe Hera, quando soube que Zeus, seu marido, havia concebido Athena sem sua participação, pois Athena nasceu já adulta da cabeça de Zeus. Portanto, Ares é filho do ódio e do rancor de Hera.
O mesmo deus é visto em Roma, com o nome de Marte, o Romano e com uma definição bem diferente daquela dada ao deus grego. Os romanos viam algo de muito positivo em Marte, pois este era um deus que usava o cérebro antes de agir. Não era possuidor de um ódio cego e indiscriminado, não era explosivo. Possuía também dois escudeiros, mas bastante diferentes de Ares. Eram Honos (que significa Honra) e Virtus (que significa virtude), ou seja, o Marte romano era acompanhado pela honra e pela virtude. Ele se firmava e lutava pelo que queria de maneira honrosa e virtuosa. É claro que também podia matar se caso alguém obstruísse a realização do seu destino. Mas de qualquer maneira esse deus simboliza a força e a coragem de lutar pelo que queremos e pelo que somos.
Parece surpreendente, mas quase nunca nos ensinam que a agressividade e a raiva, quando bem direcionadas, são fundamentais à nossa realização e sobrevivência, nossa afirmação neste mundo. Parece que em nossa cultura o único significado que ela tem é de algo nocivo e destrutivo. Essa energia nos empurra para frente, nos faz querer, exercitar nossa vontade, determinação, nos afirma e nos realiza como indivíduos. É bem verdade que esse impulso pode se tornar cego muitas vezes, cheio de rancor e ódio e nos dominar a mente e o coração. Mas também a raiva pode ser uma boa aliada no impulso de destruir padrões de comportamento, pensamentos e emoções que já não fazem nenhum sentido mantermos em nossas vidas.
A agressividade é um componente inato na constituição biológica do ser humano e é uma parte que quando negada pode nos trazer algumas complicações. Quem sabe quando olharmos de frente para essa bomba relógio que temos dentro de nós, com coragem de colocar em xeque nossa auto imagem, poderemos ter uma visão mais abrangente e integral do que somos e um equipamento mais eficaz para o nosso verdadeiro crescimento.
Enfrentar nossa raiva e rancor é entrar em contato com sentimentos mais profundos e pouco agradáveis como a rejeição, o abandono, a castração, a humilhação e consequentemente, enfrentar todo ódio, culpa e condenação dos nossos instintos. Dirigir sabiamente nossa agressividade é uma tarefa muitas vezes difícil, mas necessária, se quisermos caminhar na direção do crescimento.