Mulher tomada pelo passado
A conceituação do TEPT – Transtorno de Estresse Pós-Traumático foi ampliada recentemente, abarcando também as situações de trauma recorrente: o CTPSD – Transtorno de Estresse Pós Traumático Complexo, também incorporado no CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), em vigor desde o início de 2022.
CTPSD é uma desordem causada por traumas recorrentes no desenvolvimento da pessoa, traumas que podem ser tanto físicos como emocionais, como abusos e negligências.
Peter Walker, psicoterapeuta especialista em ajudar adultos traumatizados na infância, que tiveram exposição repetida a abusos e negligências, explora profundamente as causas de CTPSD e explica que os pais, ou familiar cuidador, que rotineiramente ignoram os pedidos de atenção, de vínculo e de ajuda buscados pela criança, abandonam-na em um medo incontrolável, de forma que ela sucumbe a sentimentos de depressão, desamparo e desesperança.
Situações repetidas de negligência e de desproteção emocional, além do ataque contínuo de desprezo e de críticas implacáveis direcionadas à criança, em formação neurobiológica, além de destruírem seu senso de autoestima, mudam a mente e deixam marcas profundas no seu corpo em desenvolvimento, provocando uma desregulação emocional que ela levará vida afora.
A essa desregulação emocional, que ocorre frente a situações que funcionam como gatilhos aos traumas passados, Peter Walker chamou de flashbacks emocionais. Os flashbacks são situações em que a pessoa responde desproporcionalmente a um evento presente que os ativam, pois eles representam memórias que regridem a pessoa ao seu trauma passado. Eles são acompanhados de reações neurofisiológicas, ou seja, ativam o sistema nervoso e libera cortisol, hormônio do estresse, no organismo.
Muitas vezes, a própria pessoa que vivencia o flashback não compreende o que está acontecendo consigo mesma, e acaba afastando as pessoas ao redor com suas reações, o que lhe causa vergonha e a lança num ciclo de culpa e ressentimento.
Para lidar com flashbacks emocionais é essencial que a pessoa tenha consciência de seu processo emocional, por isso a psicoterapia é tão importante. Ela deve ter conhecimento quando está vivenciando um, mesmo que seu corpo seja tomado pelo “corpo do trauma”.
No livro O Corpo Guarda as Marcas, Bessel Van Der Kolk, psiquiatra especialista em trauma, ensina que o cuidado pleno da vida implica reconhecer a realidade do corpo, das dimensões viscerais, vez que as pessoas nunca poderiam se curar sem saber o que sabem ou sem sentir o que sentem.
No processo psicoterapêutico, a pessoa aprende a reconhecer que está em flashback emocional, quais são seus gatilhos e como lidar com a experiência que vive no corpo, aprendendo a autorregulação de seu sistema nervoso e hormonal. Isso porque, depois do trauma, a experiência de mundo muda, pois o sistema nervoso fica diferente, e a pessoa continua a organizar a sua vida como se o evento traumático ainda estivesse acontecendo. Ela volta ao corpo do trauma e fica alheia ao fato de estar presente em outro contexto.
Por isso, é preciso construir novas experiências, de estar seguro no presente, distante das experiências traumatizantes do passado. E quando o flashback ocorrer, é importante trazer à consciência o fato de que ele passará, e que agora a pessoa está num corpo adulto, com habilidades que não tinha quando era criança.
Se você está em sofrimento, acha que sua energia está presa e que a vida não flui, sente vergonha de eventos passados ou medo de vivê-los novamente, e se observa tomado emocionalmente por situações desgastantes, numa proporção que lhe causa muita dor e angústia, recomendo a psicoterapia corporal para enfrentar suas crises emocionais, pois você pode estar revivendo traumas marcados em seu corpo.
Sobre Fernanda Lunardi – CRP 06/159430
É formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (em ambas graduações), onde focou sua formação e atendimentos na abordagem da Psicologia Analítica, de Jung. Estudou Biopsicologia no Instituto Visão Futuro, onde atuou como facilitadora, Comunicação Não Violenta, no Instituto Palas Athena, e Logoterapia, com Lorena Bandeira. Trabalhou como voluntária no CVV – Centro de Valorização à Vida, e hoje faz especialização em Biossíntese no IABSP.
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