Ao longo dos meus anos de trabalho clínico, fui descobrindo que a respiração é um dos recursos mais simples e, ao mesmo tempo, mais poderosos para atravessar estados de ansiedade e depressão. Muitas vezes esquecemo-nos de que respirar é mais do que uma função automática do corpo, é também uma ponte entre o físico, o emocional e o mental. Isso acontece porque a respiração está intrinsecamente ligada ao sistema nervoso autônomo.
Quando a ansiedade se instala, a respiração torna-se curta, rápida, presa na parte superior do peito. O corpo interpreta este padrão como sinal de alerta, intensificando ainda mais a tensão, a inquietação e o medo. No outro extremo, na depressão, a respiração pode ficar pesada, lenta, quase paralisada, espelhando a dificuldade em mobilizar energia vital.
Ao tomar consciência do ato de respirar, abrimos espaço para interromper estes ciclos automáticos. Inspirar profundamente, expandindo o abdómen, e expirar devagar, soltando o ar até ao fim, envia ao sistema nervoso uma mensagem de segurança. É como dizer ao corpo: “Está tudo bem, podes descansar agora.” Este gesto aparentemente simples começa a acalmar a mente e, pouco a pouco, devolve-nos ao presente.
A respiração consciente também nos ensina sobre ritmos. Mostra-nos que a vida é feita de fluxos: inspirar e receber, pausar, expirar e soltar. Nos momentos de ansiedade, precisamos de aprender a soltar; nos momentos de depressão, precisamos de reaprender a receber. Este diálogo com a respiração vai muito além de uma técnica, é uma forma de nos reconectarmos com a nossa própria vitalidade.
No consultório, muitas vezes proponho exercícios respiratórios antes de iniciar uma conversa mais profunda. Percebo que, quando a pessoa acede ao seu próprio ritmo respiratório, a clareza e a abertura para sentir surgem naturalmente. É como se o ar trouxesse uma chave, abrindo espaços internos antes bloqueados pela tensão ou pela apatia.
Se há algo que desejo que permaneça como semente neste texto, é a lembrança de que a respiração está sempre disponível. Não precisamos de nada além de parar por alguns instantes, fechar os olhos e permitir que o ar nos conduza de volta a nós mesmos. Num mundo acelerado como o que vivemos, respirar é um ato de resistência, de cuidado e de presença.
Exercícios de Respiração para Ansiedade e Depressão
Para a Ansiedade: acalmar e regular o sistema nervoso
1. Respiração 4-7-8
- Inspire pelo nariz contando até 4.
- Segure o ar nos pulmões contando até 7.
- Expire lentamente pela boca contando até 8.
Repita de 4 a 6 vezes.
Ajuda a reduzir a frequência cardíaca e a sensação de urgência interna.
2. Respiração Diafragmática (ou abdominal)
- Coloque uma mão no peito e outra sobre o abdómen.
- Inspire pelo nariz, deixando o abdómen expandir como um balão, enquanto o peito permanece quase imóvel.
- Expire suavemente, sentindo o abdómen recolher.
Pratique de 5 a 10 minutos, sobretudo antes de dormir.
Sinaliza ao corpo que está em segurança e reduz a hiperatividade mental.
3. Suspiro Consciente
- Inspire profundamente pelo nariz.
- Solte o ar num suspiro longo e audível, como quem liberta um peso.
Repita 3 vezes.
Descarga tensões acumuladas e abre espaço para tranquilidade.
Para a Depressão: ativar energia vital e abrir espaço interno
1. Respiração Energizante (Bhastrika adaptada)
- Inspire profundamente pelo nariz, expandindo o abdómen.
- Expire também pelo nariz de forma rápida e vigorosa, como se estivesse a “empurrar o ar para fora”.
- Repita por 10 ciclos e depois descanse.
Estimula a energia vital e desperta o corpo.
2. Respiração em Três Partes (Dirgha Pranayama)
- Inspire em três etapas: primeiro enchendo o abdómen, depois a caixa torácica e, por fim, a parte alta do peito.
- Expire lentamente, esvaziando na mesma ordem: alto do peito, caixa torácica, abdómen.
Repita de 5 a 10 vezes.
Proporciona sensação de plenitude, amplitude e renovação interna.
3. Respiração com Movimento
- Inspire erguendo lentamente os braços acima da cabeça.
- Expire baixando os braços e soltando o ar pela boca com um leve som.
Repita 6 a 8 vezes.
Desbloqueia rigidez corporal, amplia a mobilidade e liga a respiração ao gesto de expansão.
✨ Sugestão prática:
- Para ansiedade, use técnicas calmantes à noite, antes de dormir ou em momentos de crise.
- Para depressão, pratique pela manhã ou início da tarde, quando há maior necessidade de ativar o corpo.